quarta-feira, 12 de junho de 2019

Conto: A Flecha, por W. Valek


A Flecha

Meus primeiros dias de vida foram em cima de uma grande árvore. De lá, eu via toda floresta, os Pinheiros altivos cravados na terra marrom escura, via como eram fortes suas raízes e como era bonito a dança da sua ponta ao vento. Vários animais dependiam do pinheiro para viver, muitos moravam nele, ou apenas descansavam de uma longa viagem; o rei da floresta ele era.

De dia pássaros cantavam suas melodias para o rei, os pica paus limpavam de sua casca os vermes, e a noite a curuja cantava em uma solitária e longa nota, embalando sua majestade. Até mesmo o céu era seu vassalo, dando-lhe um leve orvalho para aplacar a sede de um dia de sol. 

De minha morada o topo do Carvalho, contemplei por várias vezes humanos brincarem na nossa floresta, seus risos faziam feliz o Pinheiro e sua corte real. E um belo dia eu caí, pisoteado pelas crianças, afundei na terra húmida, tudo escuro, frio e muito medo, era o primeiro abraço da mãe terra jord. A terra se encheu de água da chuva de Thor, e o pai de todos Odin, disse que assim seja. 

Como por magia eu sai da terra, era alto, não mais uma bolota, eu era um pequeno carvalho. O tempo passou, passou e passou. As crianças e eu crescíamos  juntos, eu agora era mais alto que elas, que não brincavam mais da mesmo forma, se enamoravam na corte do rei, e eu também já espalhava meus descendentes no ar para virarem bolotas e um dia serem um poderoso carvalho.

Agora sou adulto, nunca mais vi as crianças, até um dia em que o menino agora homem veio até mim. Me observou como um velho amigo, e mais uma vez me levou ao chão, seu machado foi impiedoso e cruel. Me arrastou até sua casa em pedaços e me jogou no fogo, muito de mim fora perdido. Outras partes ele mutilou e moldou numa espécie de vareta que adornou com penas e uma ponta de metal. O homem me mataria aos poucos, mas para compreender tamanha maldade, permaneci vivo numa pequena parte de mim, para ver tal propósito. 

Antes tivessem  Fui atirado várias vezes no ar, voando e rodopiando como um pássaro, trespassei vários animais e seu sangue morno me cobria toda vez. Não mais eu trazia vida e abrigo, agora eu era a morte alada do homem.

Um certo dia voei na direção de um homem eu voei, asas negras de corvo me guiaram certeiro na pele de um homem. Meu mais terrível golpe direto por seu coração podia sentí-lo batendo e babando sangue na minha madeira. Fui partido ao meio pelo homem ferido que armado com seu machado derrubou o menino homem que outrora conheci, e ali, em meio ao sangue e loucura, perecemos juntos. Num último alento meu pude ver no reflexo de seus olhos mortos o rei Pinheiro em sua Glória, então eu soube, que os homens passarão mas o rei alí para sempre estará.
    
W. Valek


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